25/12/2011

Efeitos ambientais de centrais nucleares

A utilização pacífica da energia nuclear para produção de electricidade desperta grandes preocupações na generalidade das pessoas, em particular no que se refere ao impacte ambiental das centrais nucleares. No que se segue, pretende-se proporcionar ao leitor um conjunto organizado de elementos informativos e, eventualmente, estimular alguma reflexão sobre o assunto.
Antes da abordagem deste tema ¾ que é propício a mal-entendidos ¾ convém recordar alguns factos, que poderão ajudar a enquadrar o problema.

Em primeiro lugar, importa ter presente que qualquer actividade humana comporta riscos. Uma viagem de automóvel, a faina do pescador, o trabalho de construção civil ou o banho de sol do veraneante, são apenas exemplos de situações correntes a que está associada a possibilidade de haver acidentes, lesões ou morte.
Em segundo lugar, é importante ter consciência que o funcionamento de uma instalação industrial acarreta sempre efeitos ambientais, que podem ser mais ou menos significativos, mais ou menos gravosos, consoante as circunstâncias. Instalações industriais como um complexo petroquímico, uma fábrica de cimento ou de pasta de papel, uma siderurgia ou uma exploração agro-industrial, por exemplo, não são inócuas em termos ambientais. De igual modo, as centrais termoeléctricas ¾ sejam elas convencionais ou nucleares ¾ têm inevitavelmente impactes sobre o ambiente. A questão que se põe aqui, como em todas as actividades humanas, é a de analisar as vantagens e os inconvenientes das opções em jogo. No que respeita à produção de electricidade, importa ponderar certos factores, tais como a necessidade de ir ao encontro dos anseios das populações, o carácter finito dos recursos naturais, o imperativo de acautelar o aprovisionamento em matérias-primas energéticas e o correspondente interesse estratégico de diversificar as fontes de energia, assim como os efeitos dos centros electroprodutores sobre a saúde e o ambiente.

Os principais obstáculos ao desenvolvimento da utilização da energia nuclear têm estado ligados às questões de protecção do ambiente. Há que reconhecer, no entanto, que esta situação envolve alguma dose de ironia. Na realidade, nenhum outro domínio científico ou técnico esteve sujeito a restrições tão severas, desde o início, com o objectivo de proteger o Homem e o ambiente. As próprias situações acidentais têm servido para aprofundar os conhecimentos técnico-científicos e, em consequência, para aumentar, cada vez mais, os níveis de protecção ambiental. Pode afirmar-se, com objectividade, que a utilização da energia nuclear tem proporcionado uma notável oportunidade no sentido de diminuir a poluição do ambiente.


A comparação de valores referentes a vários tipos de centrais termoeléctricas de igual potência (carvão, fuelóleo, gás e nuclear) poderá ajudar a compreender a razão da afirmação feita acima. Da análise desses dados, constata-se que as centrais nucleares:
1.    não consomem oxigénio;
2.    não produzem dióxido de carbono, que está na base do chamado efeito de estufa, de que pode resultar um indesejável aquecimento global do ambiente terrestre;
3.    não produzem dióxido de azoto nem dióxido de enxofre, a que estão associadas as  chamadas chuvas ácidas;
4.    não produzem poeiras;
5.    não produzem cinzas, cujas dificuldades de remoção não são de somenos importância; e
6.    não põem problemas especiais de transporte de combustível ¾ convém ter presente os riscos associados a esta faceta da questão, de que os mais impressionantes são, talvez, os que têm a ver com os desastres ecológicos provocados pelas chamadas marés negras, isto é, por derrames acidentais de “crude” no mar.


No que se refere ao impacte térmico do calor libertado pelas centrais termoeléctricas, importa sublinhar que nenhum processo térmico de produção de electricidade utiliza todo o calor disponível. Com efeito, apenas uma fracção do calor é convertida em energia eléctrica, sendo a parte restante libertada para o ambiente. Como o rendimento das centrais convencionais é superior ao rendimento das centrais nucleares e, por outro lado, uma parte do calor residual das centrais convencionais é expelida para a atmosfera juntamente com os gases de combustão, as centrais nucleares acabam por rejeitar mais calor para o ambiente (cerca de 35%) do que as centrais convencionais, sendo esse calor libertado em parte ao nível da água de refrigeração que circula no condensador do vapor. Todavia, as técnicas de dissipação do calor residual actualmente disponíveis ¾ seja através de grandes massas de água (mar, rio ou lago) ou através de torres de refrigeração, em que o calor é rejeitado directamente para a atmosfera ¾ permitem ultrapassar esta desvantagem das centrais nucleares. Na realidade, analogamente ao que se passa com as centrais convencionais, podem ser tomadas medidas de modo a não haver prejuízos para o ambiente resultantes do impacte térmico, deixando de fazer sentido falar de poluição térmica.

Questão diferente, e específica das centrais nucleares, é a que diz respeito à produção de nuclidos radioactivos no núcleo do reactor (produtos de cisão, que, com excepção de uma pequeníssima fracção, ficam retidos no combustível nuclear), e na sua vizinhança próxima ¾ produtos de activação, que resultam da interacção de neutrões com impurezas do fluido de refrigeração e com produtos de corrosão de materiais de estrutura. Os aspectos mais relevantes a ter em consideração no que se refere aos efeitos ambientais específicos das centrais nucleares são, nomeadamente, a descarga de efluentes radioactivos (líquidos e gasosos) e a gestão de resíduos radioactivos, em particular os resíduos sólidos de alta actividade.

As centrais nucleares estão equipadas com sistemas de tratamento de efluentes radioactivos, por forma a minimizar quer o volume quer a radioactividade dos efluentes descarregados. Além disso, a libertação para o ambiente é previamente controlada, de modo a garantir que os limites autorizados pelas normas de exploração da central não são excedidos.

As técnicas de controlo dos efluentes gasosos fazem apelo (1) à armazenagem dos efluentes durante o tempo suficiente para que a radioactividade diminua até limites aceitáveis, e (2) à filtragem dos efluentes com vista à retenção das partículas radioactivas antes da sua descarga, que é feita apenas quando as condições meteorológicas são favoráveis para a sua dispersão. 

Quanto aos efluentes líquidos, quatro técnicas principais de tratamento são utilizadas para baixar os níveis de radioactividade: armazenagem, filtragem, evaporação e desmineralização. Os líquidos residuais são descarregados em cursos de água ou no mar, onde se diluem, uma vez que se comprove que os níveis de radioactividade daí decorrentes são inferiores aos limites admitidos.

A gestão dos resíduos sólidos ¾ em particular, no que se refere aos resíduos de alta actividade ¾ é, porventura, o aspecto que mais preocupação tem suscitado na opinião pública. Num próximo post abordar-se-á este tópico com algum pormenor. 

Fonte:
Energia Nuclear – Mitos e Realidades
Jaime Oliveira & Eduardo Martinho
(Editora O MIRANTE, 2000)

Para esclarecimento de conceitos, consultar:

1 comentário:

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